Depois de todo este tempo eu só me consigo lembrar de quando me viraste as costas, fugindo, em direção ao avião que ias apanhar para desapareceres de uma vez por todas, e quando mais precisava de ti. Nem mesmo quando eu fiz de tudo ao viajar meio mundo para te ver, implorando que voltasses, tu recusaste sempre, atirando-me à cara que a culpa era do vício. Mas não.
E agora, todos estes anos passaram, e tu voltas, como se nada fosse, e pedes para ficar a teu lado quando mais precisas de mim? Não é assim que funciona. O meu amor por ti desapareceu, tu naquela altura tiraste-me aquilo que eu mais precisava, e fui obrigado a viver com isso, a renascer, a ter um novo rumo na vida. Segui os conselhos que nunca devia ter seguido.
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Quando eu estava completamente fora de mim, perdido, foi ele que me ajudou a levantar, a recolher todas as peças do puzzle que tu próprio destruíste, A vida a dois tornou-se durante longos anos uma vida solitária que só ele conseguiu ajudar a superar, sarando as feridas que tu deixaste ficar com o teu rasto de destruição. Ele cuidou de mim, ficou ao meu lado, sem pedir nada, ao contrário de ti.
As peças do puzzle que tu próprio destruíste foram recuperadas com um novo amor, carinho, amizade, e acima de tudo esperança. Esperança de nunca mais te ver, de que estas peças conseguissem encontrar um novo dono, alguém que as conseguisse reconstruir. E assim foi. Ele soube estimar aquilo que tu não soubeste fazer ao longo de dez anos. E agora ironicamente dez anos passaram, e acredita que tudo mudou.
Aquele rapaz ingénuo que tu conheceste, ingénuo, que supostamente só via na droga a sua única saída, virou um homem de família, bem sucedido com a vida que conseguiu recuperar graças a alguém que soube dar valor a algo que tu nunca soubeste dar: a vontade de viver. Sou feliz com ele e com a nossa filha, e nada nem ninguém vai derrubar essa felicidade. Ele é o homem da minha vida, é a minha metade, e acredita que nada nem ninguém vai destruir aquilo que nós os dois conseguimos construir até ao momento.
Nem mesmo tu. Recorda-te que tudo o que vai, volta. E se eu consegui sair desse vício, tu também consegues. Basta quereres e teres força de vontade. Mas não contes comigo tal como eu não pude contar contigo quando mais precisei.
Porque depois de todo este tempo eu só me consigo lembrar de quando me viraste as costas, fugindo, em direção ao avião que ias apanhar para desapareceres de uma vez por todas, e quando mais precisava de ti. Nem mesmo quando eu fiz de tudo ao viajar meio mundo para te ver, implorando que voltasses, tu recusaste sempre, atirando-me à cara que a culpa era do vício.
Mas não. A culpa era tua!
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