Saio de casa bem cedo, ainda o sol está a nascer.
Tenho de ir para o trabalho, passar o dia numa correria, de um lado para o outro, sem parar.
Almoço em cinco minutos e volto para a mesma rotina, sem descansar.
O dia chega ao fim, pego no carro e volto para casa, já de noite. Só me apetece descansar.
Abro a porta, acendo a luz, e dirijo-me ao sofá. Sento-me.
Quando dou por mim, olho para o lado, e vejo duas pessoas a falarem. Não consigo reconhecê-las porque estão de costas. Até que.... Olha, somos nós.
Estamos a falar no jardim onde nos encontrávamos todos os dias, depois das aulas. Que saudades desses tempos. Não consigo perceber a conversa, mas lembro-me perfeitamente do odor, do cheiro que pairava no ar naquela primavera solarenga. Belos tempos!
Levantas-te com um sorriso na cara, e vais embora, e eu fico ali sozinho a olhar para ti enquanto caminhas e vais desaparecendo do meu alcance.
Olho para o outro lado para ver se te avisto novamente, mas tudo se desfoca. O jardim transforma-se numa casa abandonada no meio de um campo, e novamente lá estão duas pessoas. Novamente eu e tu. O sorriso era a tua marca, vejo-te a saltar de alegria e a dar-me um abraço que quase me sufocou. Festejo contigo, porque a tua felicidade era a minha felicidade. Aquela era a casa, a nossa casa, que tenho procuramos e finalmente encontramos. Parece que foi ontem!
Mas de repente a casa abandonada transforma-se numa bela habitação, e dou por nós dentro da sala, pintada a verde e laranja, com toques florais, sentados em frente à lareira, a olhar para o lume a arder! Encostas a cabeça no meu ombro, sempre com um sorriso na cara, e pediste para nunca te deixar. Eu prometi que nunca faria tal coisa.
Quando tento olhar para ti, desapareces... O verde e laranja da nossa casa deram lugar ao preto! A lareira que vivamente ardia está apagada e a sala quente está completamente gelada. Procuro por ti e não te encontro. Que cheiro estranho no ar. Onde estás?
Olho pela janela e vejo-te deitada no jardim. Corro para ir ter contigo, tento alcançar-te e não consigo. Estás perto mas ao mesmo tempo tão longe. Quando dou por mim vejo uma nuvem e aos poucos vai tudo ficando cada vez mais desfocado, está tudo a desaparecer, até que dou por mim novamente no meu sofá!
Do passado passo para a realidade, a realidade de que já não estás a meu lado.
Aquele fatídico dia que tirou a tua vida atormenta a minha todos os dias, a todos os segundos. Trabalho sem parar para que o pensamento não fique assolado na solidão de te ter perdido, e tudo por culpa minha.
Se ao menos estivesse lá para te ajudar, acredito que o fogo não tinha destruídos as nossas vidas, e que ainda hoje estarias aqui comigo. Perdoa-me!
Levanto-me e vou para a cama. Tento adormecer sem pensar nas memórias nostálgicas que deixaste dentro de mim.
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